sexta-feira, 25 de maio de 2012

Passeando passa o passado



É devagar que o ontem se torna passado...  

De passado prematuro até se tornar algo que o tempo levou, se percebe pouco quanto leva até surgir a primeira saudade. Para todo perigo do corpo há uma dor, e não é diferente com o perigo da distância. Saudade dói pra avisar de alguém e outrem que precisa ser lembrado e pensado mais vezes.

Deveríamos falar “pessoas que passei pela vida delas” ao invés de “pessoas que passaram na minha vida”, pois a gente mais passeia pelos outros do que somos visitados em nós mesmos. Mas sempre há aquela sensação insistente de que tudo no mundo passa por nós, como se centro fossemos, quando na realidade é a gente que esta sempre vagando... Vai tramando invisível uma amarra continua, passando por alguém que esta passando por mais alguém, que esta dividindo com alguém, que passou por todos de antes e irá levá-los a tantos depois. Todos passando pelas vidas uns dos outros sem que nada seja centro...

Quando se divide a felicidade é que ocorre o plantio da amizade. É quando se espalha a alegria, que se rega a cumplicidade. O verdadeiro bem-querer se estabelece no estado de graça da troca humana, e sublima a intensidade do nosso nexo.  Irmandade independe da origem dos laços. Basta apenas que eles existam.

Se pudesse sentir saudade antecipada, o faria para não dar chances ao barco do acaso para decidir quem vai ou quem fica. Convivência não é presença física. Convivência é saber da vida de quem se quer ter por perto.  Saber os fatos, as pequenas ou grandes conquistas, os humores do dia ou as novidades da semana. Não deixe de lado nem mesmo as tolices e as futilidades, porque tudo isto é um presente generoso da vida que pode enfeitar suas prateleiras de boas lembranças.

Não se pode apressar nem retardar... Vai seguir na exata e estática velocidade do universo sem que você possa fazer nada. Um tic-tac após o outro, seremos eternos prisioneiros do agora. Pois é passeando que passa o passado. De passo leve, sem pressa, desligado e de pensamento longe. Transformando vagarosamente tudo que toca. Passa num leve sussurro quando perto e faz notável barulho quando longe.


Giovani Zanon

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