quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Monólogo do Pensamento...



Monólogo do Pensamento

Será que é possível narrar a tal voz interior ininterruptamente, a ponto de preencher volumes consideráveis de linhas com ideias, entretenimento, interessantismo — e até mesmo devaneios como este, de inventar a palavra anterior apenas para expressar o que passa na cabeça, simplesmente por não querer interromper o vômito de raciocínios desenfreados, que incrivelmente irão acabar com esse ponto de interrogação aqui: “?” (ufa... respire agora).

Possível pode ser; difícil é encontrar lugar para as vírgulas, que não encontram pausa, não encontram espaço vazio na ação de pensar. Pois, mesmo quando achamos que não há pensamento, lá está ele, lhe sugerindo que apenas o fato de achar que não está pensando já define que sim, você está. E, se tentar parar de pensar, estará pensando nos meios de parar — e isso, por si só, já o recolherá a um pensamento. Meditação, alguém me disse, é a própria ausência do pensar. Mas só de pensar que estarei pensando em parar de pensar enquanto medito, estarei em uma absoluta e deliberada atitude pensativa flagrante.

Então, ao contrário de parar, temos mais é que acelerar: exaurir cada pensamento até ele se cansar, dando sequência ao próximo que virá — e, fatidicamente, virá — outro, breve ou intenso, conexo ou desconexo com o anterior. Todos eles nos oportunizam milhões de chances para pensar o impensado. Dar direção e comando aos pensamentos é um tanto quanto difícil. Mas, mesmo com tanta dificuldade, temos incontáveis cérebros que por aqui já passaram e pensaram toda esta parafernália tecnológica, analógica, digital, de ferro ou de concreto, de madeira ou de plástico que temos à disposição — excluindo-se, claro, tudo que já estava aqui antes de nós, por obra da mãe natureza.

Ainda assim, acho que seja possível pensarmos mais — e até melhor — do que eles. Pois, entre todos os pensadores que já passaram, há uma ambiguidade registrada entre culpa e mérito em suas criações, oriunda da relação entre os benefícios e malefícios que elas trouxeram. Claro que isso não é uma sentença absoluta sobre tudo o que se inventa por aí. Existem, sim, muitas criações sem aspectos negativos, fruto da mão humana. Mas, invariavelmente, aquelas consideradas imprescindíveis para o “sistema” cobram faturas altíssimas da humanidade.

Pensemos, então, sobre o que esse histórico frenético de invenções e inventores tem a nos ensinar... Falo daquilo que podemos identificar como a falha comum ao pensamento deles, que permitiu produzir os malefícios que suas ideias nos trouxeram.

Esse produto negativo do pensamento nasce na intenção de quem o gerou. Se você pensa com foco no coletivo, no amplo universo que o rodeia, o fruto do seu pensamento sempre produzirá em direção ao bem comum, ao bem do outro. Do contrário, quando o pensamento está focado, em primeiro plano, no “eu”, o egoísmo ganha embrião: o benefício é pessoal, individual — e o malefício, público e coletivo.

Criticar e estressar seu próprio pensamento a respeito do produto final ajuda a adquirir sabedoria, ao escolher qual dos pensamentos irá alimentar: os bons ou os maus. “Liberte seus pensamentos que eles lhe libertarão.” Essa sentença pode ser correta — desde que não o liberte à custa da liberdade do próximo.

Neste breve ensaio de consequências, naturalmente o homem aprendeu que o bem e o mal são tudo aquilo que se quer ou não se quer para si próprio. Esse pensamento foi muito útil nos últimos milhões de anos como guia rápido da mente para a básica sobrevivência. Mas agora, para os próximos séculos, requer-se mais que isso. A amplitude da percepção do bem e do mal precisa evoluir do instinto de sobrevivência individual para a sobrevivência coletiva.

É preciso tornar consciente — e até inconscientemente natural — que só se sobrevive quando o que é bom e agradável para você também é bom e agradável para vários outros. E que seus temores podem não ser apenas os males que ameaçam o seu quintal, mas também o mal que ronda um outro indivíduo qualquer, a continentes de distância.

Se chegarmos lá, se evoluirmos de fato, se conseguirmos humanizar o termo humanidade, será apenas através do pensar...

Se não pensássemos as ameaças, não precisaríamos pensar em proteção — pelo contrário, pensaríamos apenas nas oportunidades.

Se não pensássemos em vantagem, não temeríamos a desvantagem — ocuparíamos a mente apenas com a justa divisão.

Se não pensássemos só em nós, mas sim pensássemos em todos nós, não precisaríamos pensar que estamos sós — e então, juntos, pensaríamos o amor.

Fiz e reparti este pensamento para que ele não caia no esquecimento — para dar vazão a um pequeno vento que anseio que, em algum momento, vire furacão. Que ganhe força e empurre algum bocado de gente a um pequeno passo em direção à evolução.

Giovani Zanon

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