quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Esqueceram o Sermão do Bom Ladrão....


O instinto de sobrevivência foi nos concedido na matriz da criação. Creio que deus assoprou no nariz do homem de barro e disse: “Agora se vira”! Tudo que o homem inventou para “se virar” depois disto, não é culpa do homem de barba grande e branca da qual somos a imagem e semelhança.  Talvez seja culpa da tal árvore da sabedoria, que logo tratamos de adaptar para a árvore da “malandragem”.

Sobreviver a tantas eras hostis que passamos, cunhou na nosso DNA a prática do instinto da sobrevivência PRÓPRIA e não da espécie...  Outros animais também seguem nesta linha, porém, por total força da falta de razão. Já o homem, que ganhou a razão e a sabedoria, ignorou estas sagradas ferramentas e quis acompanhar o resto dos animais ao invés de evoluir para o instinto de sobrevivência COLETIVA.

E o tempo passou.. e passou.. e esta mania de cuidar em primeiro lugar do próprio umbigo e bem estar, nos ensinou a arte de corromper, putrificar, deteriorar (Sinônimos de corrupção) outras pessoas para obter vantagens. Assim, a CORRUPÇÃO esteve dando as cartas em todas as formas de organização civil e política da história. Lá estava ela enraizada seja nas tribos, califados, reinados, republicas, famílias, etc... como ferramenta mais conhecida na obtenção de vantagem pessoal.  Até que um belo dia, um Padre resolveu falar da maldita em um sermão. Muito motivado, quem diria, pela corrupção que se instalava nas terras do novo mundo (Um tal de Brasil) pertencentes a coroa portuguesa, corte na qual prestava seus sagrados serviços.

O Padre Antônio Vieira escreveu o Sermão do Bom Ladrão em 1655 e o tascou na cara da corte de D. João IV, incluindo o próprio. Em um discurso de grande risco, mesmo que calculado, à própria pele, criticou de forma cirúrgica todos que estavam se valendo das nobres posições para enriquecer ilicitamente com toda a facilidade que as riquezas do além-mar proporcionavam.

Disse ele em um trecho:
“(...) Levarem os reis consigo ao paraíso os ladrões, não só não é companhia indecente, mas ação tão gloriosa e verdadeiramente real, que com ela coroou e provou o mesmo Cristo a verdade do seu reinado, tanto que admitiu na cruz o título de rei.  Mas o que vemos praticar em todos os reinos do mundo é, em vez de os reis levaram consigo os ladrões ao paraíso, os ladrões são os que levam consigo os reis ao inferno”.
E em um outro qualquer:
“(...) aquele que tem obrigação de impedir que se furte, se o não impediu, fica obrigado a restituir o que se furtou. E até os príncipes que por sua culpa deixaram crescer os ladrões, são obrigados à restituição; porquanto as rendas com que os povos os servem e assistem são como estipêndios instituídos e consignados por eles, para que os príncipes os guardem e mantenham com justiça.”

E o tempo passou.. passou... E o sermão continua o mesmo. Mas nos tempos modernos, a novidade agora é disputar quem roubou mais que o outro e quem roubou primeiro e, ainda por cima, cometem a injustiça de esquecer de incluir Barrabás nesta disputa pelo primeiro lugar. Avisem os marqueteiros de plantão que poderão se servir de um período maior da história para achar culpados para colocar na frente e dizer... “FOI ELE”!

E o povo? Continua míope, procurando um lado para se colocar a serviço. Ignorando que não há boas intenções nestes que se propõem a dedicar a vida a um ofício no qual as principais atividades são a de transformar em privado o que antes era público. A de criar a dificuldade para vender a facilidade. A de usar a mentira como única via da comunicação e posicionamento. A de manipular pessoas de bem para obter o resultado do mal. A de se apropriar das instituições para construir mansões.

Não há virtude em nenhuma sigla, consequentemente, não há lado certo desta história que você possa tomar lugar nas fileiras. Não se acometa de tamanha ingenuidade. Não seja instrumento de propagação da desinformação. Seja sim vigilante. Seja questionador até do que vez ou outra possa ser uma ação “acertada”... porque a chance dela ter, em algum nível, um tanto de “errada” é gigantesca.

Seja do partido dos que não tem partido e acredite somente naqueles que nada tem a ganhar com as posições que defendem.  Já dizia um saudoso poeta da música de protesto.. “O que está na escuridão, deverá ser revelado. Não estamos aqui para julgar entre o que é bom e o que é ruim, mas sim fazer o que é certo”.



Giovani Zanon