O instinto
de sobrevivência foi nos concedido na matriz da criação. Creio que deus
assoprou no nariz do homem de barro e disse: “Agora se vira”! Tudo que o homem
inventou para “se virar” depois disto, não é culpa do homem de barba grande e
branca da qual somos a imagem e semelhança.
Talvez seja culpa da tal árvore da sabedoria, que logo tratamos de
adaptar para a árvore da “malandragem”.
Sobreviver
a tantas eras hostis que passamos, cunhou na nosso DNA a prática do instinto da
sobrevivência PRÓPRIA e não da espécie... Outros animais também seguem nesta linha,
porém, por total força da falta de razão. Já o homem, que ganhou a razão e a
sabedoria, ignorou estas sagradas ferramentas e quis acompanhar o resto dos
animais ao invés de evoluir para o instinto de sobrevivência COLETIVA.
O
Padre Antônio Vieira escreveu o Sermão do
Bom Ladrão em 1655 e o tascou na cara da corte de D. João IV, incluindo o próprio.
Em um discurso de grande risco, mesmo que calculado, à própria pele, criticou
de forma cirúrgica todos que estavam se valendo das nobres posições para enriquecer
ilicitamente com toda a facilidade que as riquezas do além-mar proporcionavam.
Disse
ele em um trecho:
“(...) Levarem os reis consigo ao paraíso os
ladrões, não só não é companhia indecente, mas ação tão gloriosa e
verdadeiramente real, que com ela coroou e provou o mesmo Cristo a verdade do
seu reinado, tanto que admitiu na cruz o título de rei. Mas o que vemos praticar em todos os reinos
do mundo é, em vez de os reis levaram consigo os ladrões ao paraíso, os ladrões
são os que levam consigo os reis ao inferno”.
E em
um outro qualquer:
“(...) aquele que tem obrigação de impedir
que se furte, se o não impediu, fica obrigado a restituir o que se furtou. E
até os príncipes que por sua culpa deixaram crescer os ladrões, são obrigados à
restituição; porquanto as rendas com que os povos os servem e assistem são como
estipêndios instituídos e consignados por eles, para que os príncipes os
guardem e mantenham com justiça.”
E o
tempo passou.. passou... E o sermão continua o mesmo. Mas nos tempos modernos,
a novidade agora é disputar quem roubou mais que o outro e quem roubou primeiro
e, ainda por cima, cometem a injustiça de esquecer de incluir Barrabás nesta disputa pelo
primeiro lugar. Avisem os marqueteiros de plantão que poderão se servir de um
período maior da história para achar culpados para colocar na frente e dizer...
“FOI ELE”!
E o
povo? Continua míope, procurando um lado para se colocar a serviço. Ignorando
que não há boas intenções nestes que se propõem a dedicar a vida a um ofício no
qual as principais atividades são a de transformar em privado o que antes era
público. A de criar a dificuldade para vender a facilidade. A de usar a mentira
como única via da comunicação e posicionamento. A de manipular pessoas de bem
para obter o resultado do mal. A de se apropriar das instituições para
construir mansões.
Não
há virtude em nenhuma sigla, consequentemente, não há lado certo desta história
que você possa tomar lugar nas fileiras. Não se acometa de tamanha ingenuidade.
Não seja instrumento de propagação da desinformação. Seja sim vigilante. Seja
questionador até do que vez ou outra possa ser uma ação “acertada”... porque a
chance dela ter, em algum nível, um tanto de “errada” é gigantesca.
Seja
do partido dos que não tem partido e acredite somente naqueles que nada tem a
ganhar com as posições que defendem. Já
dizia um saudoso poeta da música de protesto.. “O que está na escuridão, deverá
ser revelado. Não estamos aqui para julgar entre o que é bom e o que é ruim,
mas sim fazer o que é certo”.
Giovani
Zanon