
Antoine de Saint-Exupéry vislumbrou um mundo onde se podia chegar a qualquer canto se utilizando de poucos e curtos passos. Não consigo chegar a conclusão se o “le petit prince” possuía um “petit monde” ou se o “petit monde” é que tinha um “géant prince”.
Ou o mundo está encolhendo, ou de fato, estamos nos tornando gigantes. Nossa coragem de atravessar continentes, talvez estivesse apenas adormecida. A história prova que as distâncias não eram obstáculos para nosso desejo quase instintivo, de explorar o horizonte. Não fosse assim, como teria Alexandre o Grande conquistado impérios tão distantes? Sem temer o tempo que isto exigia, muitas pessoas empreendiam uma “vida toda” (que já não era tão longa), em uma única empreitada. Uma única cruzada na vida, rumo a um lugar desconhecido e distante, não só pelo prazer da conquista, mas também por sentirem que isto tinha consonância com suas concepções de “sentido da vida”.
Quando esgotamos as fronteiras do velho Mundo, eis que surgiram os registros históricos das grandes navegações, aquelas que desenharam um mapa mais extenso e com novas opções de destinos. E se formos além, ainda teremos as perguntas sem respostas de como o “homo sapiens” se espalhou pelo globo, se adaptando as nada semelhantes condições e tempéries da Terra.
Seguramente, a maior desinteligência do século XX foi tentarmos, através do tal “estado”, fissurar mapas, brigar por territórios, separar etnias e construir muros. Em síntese, isto fez com que o homem reduzisse seu mundo, que era gigante, à uma pequena fração daquilo que poderia chamar de “meu território”. Queriam estes líderes se tornarem “le petit princes” de seus “petit mondes”? Bem, foi o que conseguiram.
Agora, em movimento crescente, massas anseiam o contrário. Alguns em um delírio emigratório, vida estéril em cidadania, que faz da esperança a melhor amiga da ilusão. Outros, com hospitalidade garantida em qualquer lugar por força do poder econômico. Sem ser um ou outro, hoje quero estar aqui. Amanhã, quero estar ali. Em um outro amanhã, quero ver o pôr do sol lá. Quero trocar o orgulho da minha terra pela admiração da nossa terra. Não há melhor lugar no mundo do que nosso lar... mas há lugar melhor que estar em todos os lares do mundo? Quero ir de Porto Alegre a Xangai sem chamar isto de viagem. Quero que o Atlântico suma e faça de velhos e novos mundos algo que chamaríamos apenas de casa. Quero que meu passaporte deixe de ser azul, mas não quero ele nem vermelho nem de qualquer outra cor.. Quero ele transparente.
Enquanto o mundo vai ficando gigante de novo, tudo isso que quero, aguarda. Como preludio, posso compor um simples arrumar de malas, dar até logo mais uma vez, e comungar com o instinto de ser o “petit prince” de qualquer mundo que se possa alcançar com as pernas.
Giovani Zanon